Carta Aberta

Movimento Geração 68 – Nova Carta Aberta

O Movimento Geração 68 – Sempre na Luta nasceu em abril de 2021, quando lançou sua Carta Aberta inaugural às brasileiras e aos brasileiros, aos movimentos sociais, partidos, sindicatos, centrais, ONGs, organizações da sociedade civil, redes, e a todas(os) então dispostas(os) a lutar pelo Direito à Vida e pela Democracia.

Lembremos que, embora ainda pequeno, o Movimento Geração 68 Sempre na Luta integrou com arrojo as forças que construíram a vitória que ora celebramos. Foi às ruas com suas bandeiras unificadoras e sua imagem agregadora, criou ferramentas e espaços digitais para seu engajamento na grande luta que se dava no âmbito das redes sociais e, depois de angariar mais de 3,5 mil assinaturas de apoio em todo o país e até fora dele, sua Carta Aberta foi solenemente entregue à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e à Associação Brasileira de Imprensa (ABI) no Rio de Janeiro, e ao Senado e à Comissão Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em Brasília, além de ter sido lida em diversas câmaras de vereadores e plenárias de movimentos que se organizaram em defesa da Democracia no país.

Ambos – Direito à Vida e Direito à Democracia – se encontravam dramaticamente feridos pelo governo de extrema direita posto no comando do país desde as eleições de 2018. E o saldo de quase 700 mil mortos pela pandemia de Covid-19, assim como o dado estarrecedor do retorno da fome no país, atingindo mais de 33 milhões de pessoas, configuram apenas dois exemplos eloquentes no vasto conjunto das tristes estatísticas, acrescidas do profundo desmonte do Estado e constante chamado ao golpismo que integram o legado dos quatro anos de um pesadelo político que começou a chegar ao fim graças à ação decidida da maioria do povo brasileiro nas eleições de outubro de 2022.

A vitória de Lula, sua posse — com o belo e inesquecível ato simbólico da concessão da faixa presidencial ao novo presidente pelo povo — e os primeiros passos do novo governo democrático constituem fatos de importância decisiva para a reconquista da Soberania Nacional. São igualmente fundamentos para o desenvolvimento sustentável do país; a desmilitarização e enfrentamento ao genocídio dos povos originários e, em especial, a mudança radical das políticas ambientais em prol da prioridade à preservação do planeta, com o retorno assegurado do Brasil, senhor de um território ocupado por biomas essenciais, a começar pela Floresta Amazônica, ao debate sobre a mudança climática global e aos fórum de debate internacionais.

Sim, é tempo de comemorar – e comemorar muito! – a extraordinária vitória da democracia e do presidente Luís Inácio Lula da Silva. É tempo de regozijo e alegria! Com mais de 60 milhões de votos, Lula derrotou Bolsonaro, fato de gigantesca importância para deter, no Brasil e no mundo, os desdobramentos de um totalitarismo, talvez de novos contornos, mas de inequívoca inspiração nazifascista. Era, desde a origem, um governo que condenava o país e seu povo à desesperança, à miséria, à fome e ao atraso profundos.

Será desafiador para o novo governo, que vem sendo montado sobre a ampla frente democrática que viabilizou a vitória eleitoral, responder às demandas das múltiplas forças sociais que lhe deram sustentação. É um novo tempo que se inaugura agora na vida do país, em que os compromissos assumidos na campanha com todo o povo brasileiro e com seus grandes protagonistas na difícil construção dessa vitória – mulheres, pobres, negros, povos originários, jovens, comunidades LGBTQIA+, terão que ser honrados.

Não devemos esquecer que a falta de uma justiça de transição, reconhecendo as graves violações de direitos humanos cometidas pelo Estado brasileiro durante a ditadura de 1964 e a falta de punição de responsáveis e executores desses crimes gerou a interferência de setores militares na vida política brasileira. Do mesmo modo, a identificação e punição de todos os que recentemente atentaram contra as instituições da República, contra a democracia e dos responsáveis pelo genocídio do povo Yanomami, são requisitos absolutamente necessários para uma verdadeira conciliação nacional e o restabelecimento da normalidade democrática.

Entretanto, há um novo tempo em frente, novas construções que a democracia exige, em seus pilares político, econômico, social e cultural, a demandar do Movimento Geração 68 Sempre na Luta uma nova e clara explicitação de suas propostas e bandeiras – razão desta nova Carta Aberta.

As primeiras grandes vítimas do Golpe de 2016 foram as trabalhadoras e os trabalhadores. A partir das reformas das leis trabalhistas, perderam direitos e foram submetidos a regimes de trabalho precarizado que tendem à escravidão moderna, com longas e extenuantes jornadas de trabalhos, baixos rendimentos, sem garantias para si e para suas famílias. Lançados à própria sorte, hoje integram o grande contingente de brasileiras e brasileiros explorados que vivem na miséria, em condições desumanas, sem rumo e sem futuro, já que até seu sistema de previdência pública foi destruído.

Entendemos que, mesmo com a grande vitória eleitoral, a vitória política da democracia destinada a alterar mais profundamente a correlação de forças sociais atuantes na reconstrução do país, orientada pelo Direito à Vida e pela Democracia, terá que ser moldada dia após dia.

A extrema direita deste país não nos deixará esquecer que conquistou nos últimos anos vastos espaços nos territórios, não só políticos, econômicos, suas ideias conquistaram amplos setores sociais e inseriu-se em diversas instituições do Estado e da sociedade, mas também culturais, em sentido lato. Enraizou-se, disseminou-se com seu culto à violência e ao ódio, por corpo e alma desta nação e a adoeceu em larga medida. Foi isso que se expressou nas concentrações em frente aos quartéis e na selvageria criminosa e extrema da invasão dos palácios da Praça dos Três Poderes, na tentativa de golpe contra o governo constituído de 8 de janeiro de 2023 , tanto quanto nos ataques, nos assassinatos por divergência política, na ampliação dos feminicídios, nos crimes por racismo, por homofobia e em uma miríade de atos de destruição do estado brasileiro, ações genocidas contra povos originários e da confiança na educação, no conhecimento científico e na informação profissional e rigorosamente apurada.

Nós derrotamos na urna, não na sociedade. Precisamos construir uma força hegemônica de defesa da democracia, dos direitos, de visão de mundo pela liberdade e justiça

Frente a isso, o Movimento Geração 68 Sempre na Luta reafirma sua disposição de continuar organizado para, junto com uma infinidade de outros movimentos e coletivos que cresceram nos anos recentes e mostraram sua força na luta pela recuperação da democracia, defender as seguintes bandeiras:

  • Democracia sempre, ditadura nunca mais!
  • Defesa dos diretos humanos e ambientais!
  • Vida digna para todas as brasileiras e os brasileiros!

Brasil, 05 de fevereiro de 2023