RE-ENCONTRO COM CLAUDIA – AFFONSO ABREU

Um adeus ao luto!
Ego manifestat!

Um dia, um gato!
Um filme.
Uma fábula.
Uma fantasia.
Cine Ricamar.
Nosso primeiro beijo!
Longa história de vida.
Quinze de Março.
Seu aniversário.
Pensando em você.
Tempo de expressar sentimentos.
Que preciso nos dizer.
Com liberdade consciente.
Com suavidade e carinho.
Com amor e muita saudade.
Palavras escondidas na sombra.
Por um medo inconsequente
Reprimidas pela dor ou pela culpa.
Nesse imenso inconsciente.

Linda pessoa, sempre amada.
Por amigas e amigos.
Sempre lembrada.
Sempre te amei muito.
Sempre quis teu amor.
Sempre me senti amado.
Amada por nossa filha Mariana.
Gerada em ato de desejo.
Veio ao mundo apressada.
Por nós bem criada.
Para mim, seu maior presente.
Que cresceu e virou gente.
Mulher linda e consciente.
Como você, solidária.
Corajosa e lutadora.
Justa e protetora.
Humana e inteligente.
Que adora o sol.
Que adora o mar
Politizada e sempre alerta.
Pessoa do bem esteja certa.

Foram anos com sua presença.
A um só tempo forte e amena.
Dissimulada em suas dores, que pena!
Presente nas minhas dores, sempre integra e serena.
Amiga incomparável.
De quem nunca escutei um lamento.
Novamente, que pena!
Caminhou vida afora pela estrada da transigência.
Constrita!
Reprimida!
Resiliente!
Tudo deu, aceitou, concedeu.
Pouco exigiu!
De mãos humanas, recebeu carinhos e carícias.
De mãos desumanas, recebeu torturas e sevícias.

De repente, você partiu.
Em certo dia de março.
Mês em que nasceu e morreu.
Com coragem extrema?
Por desespero ou por desencanto?
Ato insano?
Plano bem elaborado?
Não sei se valeu a pena.
Pouco importa.
Exerceu suprema liberdade.
Dispôs da vida, como quis.
Criou asas e voou.
Para bem longe desse insensato mundo.

Senti sua perda de muitas maneiras
Sinto sempre e todo dia.
Muita dor no coração.
Muita saudade.
Aceitação.
Perplexidade.
Lindas lembranças.
Momentos de grande alegria.
Cumplicidade.
Harmonia.

Neste março.
Te liberto.
Me liberto.
Te desculpo
Me desculpo.
Seja longe.
Seja perto.
Sempre amigos.
Estou certo.
Muito amor.
Valeu a pena.
Hora de despedir.
Seguir em frente.
Em uma estrada florida.
Em uma estrada de luz.
Sem dizer adeus.
Apenas renascer.

Affonso Abreu
15/03/2022
Revisto em 07/04/2023

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A ANGÚSTIA NÃO VAZA NO POEMA – ANGELA ZANIRATO

Três antidepressivos.
Três comunhões diárias, à noite os ansiolíticos. A insônia rasga a noite.

pedra peixe

Não, não são alegorias de um poema de socorro. São as fomes e a falta do alimento. A mim só sobraram os tarjas pretas.
Como nasce uma depressão? Pela sombra. A sombra sabe de tudo ,vive no entorno. Quando estou insone e acendo a luz a sombra está lá rindo na minha cara.

pedra peixe

Pedi que cortassem minha sombra. Cortaram meus cabelos em nome do vinho do pai e do filho.
O amor é uma culpa que não carrego. Carrego cruzes que amedrontaram a minha infância, Jesus morto era o amor, os panos roxos cobrindo os santos na quaresma. O amor amedronta.
O medo eu carrego, como quem tem cuidado com a fragilidade do bebê no banho.
Minha mãe deu banho em onze filhos.

pedra peixe

Angústia é como um tumor que não vaza nunca. Nem os unguentos aliviam. Quando rasgo a noite, lembro-me dos véus das mulheres filhas de Maria na igreja. Jesus na cruz encontra Maria. Todos choram. A angústia personificada.
A cruz é coletiva
Minha angustia não tem persona. Só sombras.

pedra peixe

O milagre dos peixes não acontece. As pedras não amam.
Logo esculpo a noite e a insônia. Vinte horas e quarenta e cinco minutos.
O poema está morto e a cor da tinta é roxa .Não salvarei as palavras na construção da noite .
A noite sou eu e eu sou uma pedinte que não aprendeu a pedir.

pedra peixe.

Vinte horas e cinquenta e sete minutos.

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Angela Maria Zanirato Salomão É professora de História, Pós-Graduada pela UNESP de Assis e pela UEM, Maringá. Participou do Mapa Cultural Paulista versão 2015/ 2016, onde foi classificada para a fase final na modalidade conto. Participa da Associação de Escritores e Poetas de Paraguaçu Paulista- APEP. Tem poemas publicados em várias antologias. Foi publicada nos sites : Blocos Online , Parol , Movimiento Poetas del Mundo , Antologia do Mapa Cultural Paulista edição 2015/2016 ,versão e-book ,Revista de Ouro, Revista Ver- O- Poema , Revista InComunidade , Mallarmargens, Revista Digital Literatura e Fechadura, Revista Ruído Manifesto , Revista Ser MulherArte e na Revista Feminista Helenas. Foi curadora do projeto Doze contos insólitos do poeta Márcio Saraiva, em 2019. Em 2020 foi classificada em primeiro lugar no concurso de poesias da Editora Arribaçã. Está presente na Antologia As Mulheres Poetas na Literatura Brasileira lançada pela Editora Arribaçã em 2021. Foi selecionada pela editora Rizomas para publicar original de livro de poesia em 2022 e pela editora Helvetia um romance.

MONÓLOGO DO FUTURO – ANGELA ZANIRATO

abraço meus escombros
tábuas de salvação
do que resta

ei, você!

estamos sós, percebe?
infinitamente sós
em meio a estas febres
coloridas
a olhos que olham longe
e nada veem
sandálias feridas de tanto caminhar no interior dos canos
em meio a estes meninos que cheiram as flores do mal
em meio ao tudo
que contém o nada

ei, você!

quanta humanidade havia
nas mãos dos homens de nosso tempo?

ajeito máscara de oxigênio
me abraço pela primeira e última vez
despeço-me de minha sombra

ei ,você!


-que me oferece o ombro:

agora é tarde

icei corda
desci o poço
as águas não me reconhecem

restou


o mergulho em mim.

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Angela Maria Zanirato Salomão É professora de História, Pós-Graduada pela UNESP de Assis e pela UEM, Maringá. Participou do Mapa Cultural Paulista versão 2015/ 2016, onde foi classificada para a fase final na modalidade conto. Participa da Associação de Escritores e Poetas de Paraguaçu Paulista- APEP. Tem poemas publicados em várias antologias. Foi publicada nos sites : Blocos Online , Parol , Movimiento Poetas del Mundo , Antologia do Mapa Cultural Paulista edição 2015/2016 ,versão e-book ,Revista de Ouro, Revista Ver- O- Poema , Revista InComunidade , Mallarmargens, Revista Digital Literatura e Fechadura, Revista Ruído Manifesto , Revista Ser MulherArte e na Revista Feminista Helenas. Foi curadora do projeto Doze contos insólitos do poeta Márcio Saraiva, em 2019. Em 2020 foi classificada em primeiro lugar no concurso de poesias da Editora Arribaçã. Está presente na Antologia As Mulheres Poetas na Literatura Brasileira lançada pela Editora Arribaçã em 2021. Foi selecionada pela editora Rizomas para publicar original de livro de poesia em 2022 e pela editora Helvetia um romance.

POEMAS | Hoje não vou ao mar (Angela Zanirato)

Hoje não vou ao mar

Insônia
coração acelerado na madrugada
a filha pergunta o motivo
excesso de café-
-excesso de medo-
a cerveja fora de hora-
-excesso de medo novamente-

da última vez foi excesso de excesso
não sou dada às exceções
tudo que contém vida
devoro

ultimamente a vida vem em conta gotas
doses homeopáticas
não preenchem o vazio
e o relógio olhando para mim com cara de sono
-dorme aí senhor relógio
não tenho horas para nada
você não cura taquicardias
passo creme acido retinóico
antissinais

o livro de Lorca na cabeceira
medo de Lorca poeta louco
escondo o livro de mim
será que a 180 batidas por minuto
o coração explode?

Lorca fuzilado
Herzog enforcado
Stuart Angel assassinado
meu coração saindo pela boca
os olhos desmaiados de sono
a cabeça trabalha como uma fábrica

medita
medita
medita
faz yoga pilates
nada
nada
nada

nada lembra água mar
Alfonsina foi ao mar
lavar angústias
por lá ficou
amanhece
resisto
sempre resisto

coloco água em minhas plantas
nada
nada
nada de nada
beijo a boca da kalanchoe lilás
o dia também tem seus estatutos.

Angela Maria Zanirato Salomão é professora de História, Pós-Graduada pela UNESP de Assis e pela UEM. Participou do Mapa Cultural Paulista versão 2015/ 2016, onde foi classificada para a fase final na modalidade conto. Participa da Associação de Escritores e Poetas de Paraguaçu Paulista-APEP. Tem poemas publicados em várias antologias. Foi curadora do projeto Doze contos insólitos do poeta Márcio Saraiva, em 2019. Em 2020 foi classificada em primeiro lugar no concurso de poesias da Editora Arribaçã. Está presente na Antologia As Mulheres Poetas na Literatura Brasileira lançada pela Editora Arribaçã em 2021. Foi selecionada pela editora Rizomas para publicar original de livro de poesia em 2022 e pela editora Helvetia um romance.

ARTIFÍCIOS PARA NINAR GENTE GRANDE – ANGELA ZANIRATO

um copo de água ao lado da cama

a caixa de Rivotril me olha. está dependente de mim

tomo o comprimido

só por pena

ela dorme

eu nino a caixa antes

canto Amyzinha pra ela

um pouco de Marley também

eu já tive a caixa

hoje a caixa me possui

somos duas meninas dormindo juntas

baby dool cor de rosa

não esconde a solidão

mundo de merda onde os artifícios nos seduzem

sei que sou um artifício

quando acalmo alguém

mas por dentro tenho uma faca e uma lágrima

tudo é ternura

também amargura

olho meu Picasso falso

Guernica

o cavalo mostra o limite da dor – o insuportável

a mesma dor de Plath – Alfonsina – Ana Cristina

porquê não deram um artifício para o cavalo?

para as meninas?

para Cabul – Saigon – Mariana – Hiroshima

todas meninas

a sangrarem

sem lenitivos

sem mãos nas mãos

na hora do sono

ou do fim.

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Angela Maria Zanirato Salomão É professora de História, Pós-Graduada pela UNESP de Assis e pela UEM, Maringá. Participou do Mapa Cultural Paulista versão 2015/ 2016, onde foi classificada para a fase final na modalidade conto. Participa da Associação de Escritores e Poetas de Paraguaçu Paulista- APEP. Tem poemas publicados em várias antologias. Foi publicada nos sites : Blocos Online , Parol , Movimiento Poetas del Mundo , Antologia do Mapa Cultural Paulista edição 2015/2016 ,versão e-book ,Revista de Ouro, Revista Ver- O- Poema , Revista InComunidade , Mallarmargens, Revista Digital Literatura e Fechadura, Revista Ruído Manifesto , Revista Ser MulherArte e na Revista Feminista Helenas. Foi curadora do projeto Doze contos insólitos do poeta Márcio Saraiva, em 2019. Em 2020 foi classificada em primeiro lugar no concurso de poesias da Editora Arribaçã. Está presente na Antologia As Mulheres Poetas na Literatura Brasileira lançada pela Editora Arribaçã em 2021. Foi selecionada pela editora Rizomas para publicar original de livro de poesia em 2022 e pela editora Helvetia um romance.